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Muitas brincadeiras tradicionais vêm sendo deixadas de lado para dar espaço a jogos e aplicativos reproduzidos em aparelhos eletrônicos como tablets, smartphones e videogames. Os recursos digitais vêm ganhando a preferência de crianças e adolescentes de várias faixas etárias, mas até que ponto o hábito de se entreter com esses eletrônicos pode ser considerado saudável?
Com o avanço tecnológico, é cada vez mais comum observar crianças e adolescentes acessando conteúdos nos mais diversos ambientes, seja em casa, na escola ou em lanhouses. Embora a maior preocupação dos pais seja o tempo que os filhos dedicam aos aparelhos eletrônicos diariamente, o problema vai muito além do vício. Para especialistas, a maior ressalva está associada ao conteúdo excessivamente violento e à influência que esses jogos podem exercer na educação e no comportamento das crianças.
Entre os jogos violentos mais conhecidos pelos usuários brasileiros estão o Counter-Strike, GTA, Gangstar Vegas e Gangstar Rio ofSaints. Na última terça-feira (17), inclusive, foi lançado nos Estados Unidos o novo GTA 5 e, para se ter ideia do sucesso, em apenas 24 horas o game arrecadou US$ 800 milhões em vendas. O jogo, que chegou ao Brasil na última quinta-feira (19), permite que os jogadores pratiquem atividades perigosas como roubar veículos, enfrentar integrantes de gangues e assaltar bancos.
Na opinião de Eraldo Junior, pai de Mateus, que tem 7 anos e costuma brincar à vontade com eletrônicos, a solução não está na proibição, mas em vigiar a relação dos filhos com esses aparelhos. “Se deixar, ele fica o dia todo jogando no tablet, no computador e no PlayStation. Geralmente, são jogos para quem tem 18 anos, mas as crianças querem brincar. Meninos de 7 anos querem jogos que são pra adultos, que são violentos e contêm muitas cenas de sangue, explosões, tiros”, declarou.
“Que reflexo isso vai ter futuramente na vida deles? Eles tinham que estar a essa hora jogando bola, saindo, brincando com outros colegas. Os brinquedos que a gente compra no Natal e no aniversário ficam abandonados, porque eles só querem saber desses jogos viciantes”, complementou Eraldo.
Orientação aos pais
Para a psicopedagoga Marcia Valéria Lins, o acompanhamento dos pais na vida dos filhos é um fator primordial na prevenção de possíveis transtornos que podem ser provocados pela influência de jogos violentos. “Educar é o melhor caminho. Um sujeito com uma base familiar estruturada dificilmente irá enveredar para caminhos da violência, vício ou qualquer outra direção que possa prejudicar alguém ou a ele próprio”, enfatizou.
“Existem varias condições que podem contribuir com o comportamento violento das crianças. Nesse caso, os jogos eletrônicos atuariam apenas como uma descarga na vida do indivíduo, ou seja, o jovem já tem uma pré-disposição de desvio de conduta e com a ajuda desses dispositivos ele toma impulso e descarrega seus medos, seus traumas e suas dores”, completou.
Solução
Muitas vezes, a criança acaba usando a internet, mais especificamente o Youtube, para obter dicas sobre como utilizar os jogos e aplicativos de forma ágil. Nesse caso, ela acaba tendo contato com vídeos amadores produzidos por pessoas mais velhas que, inclusive, utilizam uma linguagem inadequada e exageram no uso de palavrões.
Diante disso, a psicopedagoga enfatiza a necessidade de os pais fiscalizarem o conteúdo que os filhos acessam na internet e criarem formas alternativas para tentar equilibrar o tempo que as crianças gastam jogando. Também é importante observar se os games são adequados para a idade delas.
“Sabemos que hoje em dia os pais não passam tanto tempo em casa como há algum tempo atrás, mas é dever deles saber dos ambientes que os seus filhos frequentam e o que fazem. Também é obrigação dos pais saber com quem seus filhos andam e o que acessam na internet”, afirma Márcia Valéria.
“Seria fácil culpar a internet pela minha irresponsabilidade enquanto pai ou mãe. Devemos investigar, procurar saber, participar, interagir com nossos filhos, criar um clima de parceria e confiança. Esse é o caminho para livrar nossas crianças de um caminho muitas vezes sem volta”, concluiu a psicopedagoga.