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Para o coronel, exoneração foi alvo de ‘outra ingerência política em corporação desprovida de autonomia’
Insatisfeito com a exoneração do cargo de chefe do Estado-Maior, o coronel da Polícia Militar (PM) Ivon Berto informou, durante entrevista ao Programa Ministério do Povo, na tarde desta terça-feira (29), que a decisão do Comando foi fruto de “outras ingerências” advindas da Secretaria de Estado da Defesa Social (SEDS). Segundo o militar, a intervenção do órgão é ilegal e deve motivar uma ação na Justiça contra o comandante da corporação, coronel Dimas Cavalcante, e o secretário de Defesa Social, coronel Dário Cesar.
Questionado pelo apresentador Rogério Costa acerca de sua saída, Ivon Berto declarou haver retaliação do Estado, criticando, também, ‘a falta de credibilidade e de conhecimento técnico do comando’. Segundo o militar, a polícia não o comunicou da decisão, tendo sido informado da exoneração ‘apenas por meio da imprensa alagoana’. E ainda de acordo com o militar, o próprio comandante estaria “de mãos atadas”, em virtude da suposta influência do órgão estadual.
“Fiquei triste com a posição do comando, que está sujeito às ordens da Secretaria e que, no entanto, deveria ser autônomo. Fui afastado por causa de outra ingerência na PM, subordinada a um órgão extremamente político. Foi uma falta de consideração, não com a pessoa, mas com o cargo que ocupei”, explicou o coronel, ressaltando a posição do Conselho Estadual de Segurança Pública (Conseg), que chegou a respaldar a denúncia feita pelo militar, em sessão ordinária no Palácio República dos Palmares, no Centro.
Tendo em vista a determinação do comando, o coronel declarou à Rádio Gazetaweb que avalia a atual situação com seu advogado, objetivando processar o comandante da Polícia Militar e o secretário de Defesa Social, sob a alegação de assédio moral. “A polícia é perene, vai fazer 182 anos e é inadmissível que se submeta à ingerência política do coronel Dário. Já recorri a Deus, em primeiro lugar, e vou à luta para garantir a autonomia da corporação”, emendou.
Já o presidente da Associação dos Oficiais Militares de Alagoas (Assomal), major Fragoso, também disse – em entrevista – que a corporação passa por um momento considerado difícil, ‘enfrentado não somente pelo coronel exonerado, mas também por um grande número de soldados transferidos sem qualquer razão’.
“O coronel Ivon tenta lutar contra os desmandos do governo, cujos representantes devem abrir os olhos e tratar a polícia com dignidade”, frisou o militar, que convocou colegas de farda para uma assembleia geral às 14h30 desta quarta (30), na Associação dos Subtenentes e Sargentos Militares de Alagoas (ASSMAL), no Trapiche da Barra. O objetivo do encontro é discutir uma série de questões relativas à categoria, como realinhamento salarial, efetivo militar e mudança na escala de trabalho, além da necessidade de melhorias estruturais, havendo, inclusive, a possibilidade de aquartelamento.
Exoneração
A saída do coronel Ivon Berto da chefia do Estado-Maior se concretizou após denúncias de ingerência na PM, feitas à imprensa e ao Conseg. Uma delas envolve o vereador Silvânio Barbosa (PSB), que teria usado o cargo para influenciar a troca de comando do 5º Batalhão, sediado no Benedito Bentes, onde foi prefeito comunitário.
Outro fato interpretado como perseguição política foi a saída do coronel Luiz Carlos Ferreira do Comando de Policiamento de Área do Interior III (CPAI), que atuava em 20 municípios da região de São Luís do Quitunde. O motivo foi a manifestação pública de solidariedade ao coronel Ivon Berto, à imprensa, quando da abertura de processo administrativo disciplinar, por decisão do Conselho Estadual de Segurança.
As exonerações foram publicadas no Boletim Geral Ostensivo da Polícia Militar na última sexta (25).