Premiê encontra presidente para negociar novo governo na Grécia
Conteúdo publicado por Divulgação em: 05/11/2011 às 9:58h.
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O premiê da Grécia, George Papandreou, iniciou neste sábado (5) as discussões com o presidente Carolos Papulias as negociações sobre a formação de um novo governo, em meio à crise que abala o país e ameaça a Zona do Euro.

Ao chegar ao palácio presidencial para negociar, Papandreou disse que um consenso político é essencial para evitar eleições e proteger a participação da Grécia como membro da Eurozona.

“Meu objetivo é criar imediatamente um governo de cooperação”, disse Papandreou ao presidente em frente aos jornalistas, antes de iniciar conversas a portas fechadas.

Após a reunião, Papandreou disse que iria encontrar os partidos “em breve” para negociar.

O presidente da Grécia, Carolos Papulias (à direita), recebe o premiê George Papandreou neste sábado (5) (Foto: Reuters)
O presidente da Grécia, Carolos Papulias (à direita), recebe o premiê George Papandreou neste sábado (5) (Foto: Reuters)

Oposição
Pouco antes, o líder da oposição grega pediu eleições antecipadas.

Antonis Samaras, líder do partido conservador Nova Democracia, afirmou: “As máscaras caíram. Papandreou rejeitou nossa proposta, assume assim uma enorme responsabilidade. As eleições são a única solução”.

Na madrugada deste sábado, Papandreou obteve por escassa margem a confiança do Parlamento depois de uma semana tensa a Eurozona, e abriu as portas para a preparação de um governo de coalizão.

O Parlamento aprovou por 153 votos a 145, a moção de confiança ao abalado governo. Antes do resultado, no entanto, Papandreou já havia afirmado que buscaria formar um governo de coalizão para apoiar o plano de resgate acordado com a Europa e o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que pode significar sua saída do cargo.

Falando ao Parlamento antes da votação, Papandreou afirmou não se importar com a posição.

“Eu peço por um governo de cooperação. A última coisa com que me importo é o cargo. Não me importo se nunca mais for eleito”, afirmou.

Em seu discurso, o primeiro-ministro reafirmou a necessidade de apoio ao plano de resgate acordado com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

“É preciso que todos os partidos apóiem esse acordo. O que temos que fazer é confirmar aos nossos parceiros que a Grécia fará o necessário. Que esse pacote receba largo apoio. Tentaremos conseguir um acordo político amplo para implementar o acordo de 26 de outubro”, disse ele.

O primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, fala ao Parlamento nesta sexta-feira (Foto: AP)
O primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, fala ao Parlamento nesta sexta-feira (Foto: AP)

Papandreou afirmou que a instalação de um governo transitório e a realização de eleições neste momento seriam “catastróficas” para o país.

“Não devemos ir a eleições. Se formos, não conseguiremos implementar o plano de resgate. Nós temos que começar a negociar com nossos parceiros imediatamente”, disse ele. O primeiro-ministro afirmou, no entanto, que eleições podem ser realizadas uma vez que a situação do país esteja “mais suave”.

Referendo

Na quinta-feira, o primeiro-ministro afirmou que estava disposto a retirar seu projeto de referendo para garantir o cumprimento do plano europeu de resgate da Grécia se houver apoio da oposição para a adoção das medidas, segundo um comunicado de seu gabinete. No comunicado, Papandreou se ofereceu para conversar com a oposição com o objetivo de resolver a crise política do país.

No lugar do referendo, ficou decidido que o Legislativo irá realizar uma votação simbólica para confirmar o pacote de auxílio à economia grega. O acordo, fechado em 26 de outubro, prevê fortes ajustes nas contas gregas, assim como a redução de 50% da dívida do país junto a credores privados, fruto de uma longa negociação com os bancos.

Saiba o que está acontecendo
A Grécia tem enfrentado dificuldades para refinanciar suas dívidas e despertado preocupação entre investidores de todo o mundo sobre sua situação econômica. Mesmo com seguidos pacotes de ajuste e ajuda financeira externa, o futuro da Grécia ainda é incerto.

O país tem hoje uma dívida equivalente a cerca de 142% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, a maior relação entre os países da zona do euro. O volume de dívida supera, em muito, o limite de 60% do PIB estabelecido pelo pacto de estabilidade assinado pelo país para fazer parte do euro.

A Grécia gastou bem mais do que podia na última década, pedindo empréstimos pesados e deixando sua economia refém da crescente dívida. Nesse período, os gastos públicos foram às alturas, e os salários do funcionalismo praticamente dobraram.

Enquanto os cofres públicos eram esvaziados pelos gastos, a receita era afetada pela evasão de impostos – deixando o país totalmente vulnerável quando o mundo foi afetado pela crise de crédito de 2008.

O montante da dívida deixou investidores relutantes em emprestar mais dinheiro ao país. Hoje, eles exigem juros bem mais altos para novos empréstimos que refinanciem sua dívida.

Ajuda e protestos
Em abril de 2010, após intensa pressão externa, o governo grego aceitou um primeiro pacote de ajuda dos países europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI), de 110 bilhões de euros ao longo de três anos.

Em contrapartida, o governo grego aprova um plano de austeridade fiscal que inclui alta no imposto de valor agregado (IVA), um aumento de 10% nos impostos combustíveis, álcool e tabaco, além de uma redução de salários no setor público, o que sofre forte rejeição da população.

Apesar da ajuda, a Grécia segue com problemas. Em meados de 2011, foi aprovado um segundo pacote de ajuda, de cerca de 109 bilhões de euros, em recursos da União Europeia, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do setor privado. A contribuição do setor privado foi estimada em 37 bilhões de euros. Um programa de recompra de dívidas deve somar outros 12,6 bilhões de euros vindos do setor privado, chegando a cerca de 50 bilhões de euros.

Em outubro, ainda com o país à beira do colapso financeiro, os líderes da zona do euro alcançaram um acordo com os bancos credores, que reduz em 50% aa dívida da Grécia, eliminando o último obstáculo para um ambicioso plano de resposta à crise. Com o plano, a dívida grega terá um alívio de 100 bilhões de euros após a aceitação, pela maior parte dos bancos, de uma redução superior a 50% do valor dos títulos da dívida.

No mesmo mês, o país enfrentou violentos protestos nas ruas. A população se revoltou contra um novo plano de cortes, previdência e mais impostos, demissões de funcionários públicos e redução de salários no setor privado, pré-requisito estabelecido pela União Europeia e pelo FMI para liberar uma nova parcela do plano de resgate, de 8 bilhões de euros.

Muitos servidores públicos acreditam que a crise foi criada por forças externas, como especuladores internacionais e banqueiros da Europa central. Os dois maiores sindicatos do país classificaram as medidas de austeridade como “antipopulares” e “bárbaras”.

Plebiscito e turbulências no mercado
Em 1º de novembro, o primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, provocou novas turbulências nos mercados e na zona do euro ao anunciar que convocaria um referendo sobre o novo pacote de ajuda da União Europeia, perguntando aos eleitores se querem adotá-lo ou não.

A expectativa do premiê era que o plebiscito “validasse” as medidas de austeridade necessárias para receber a ajuda financeira. Uma pesquisa, no entanto, mostrou que aproximadamente 60% dos gregos enxergam a cúpula dos líderes europeus, que acertaram um novo pacote de ajuda de 130 bilhões de euros, como negativa ou provavelmente negativa.
Fonte: G1